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28/05/2020
Nesta fase de desconfinamento e de voltar a uma nova realidade, é importante saber como é que as empresas vão responder, na prática, a algumas questões. Estivemos à conversa com Rui Correia, Consultor de Recursos Humanos , para nos explicar como vai ser este processo de reintegração das pessoas nas empresas.
MVD – Quais as alterações nos espaços físicos das empresas que considera serem as mais relevantes nesta fase de reabertura?
RC – Algumas alterações resultam diretamente de imposições legais, como o número máximo de pessoas por área. Outras resultam da necessidade de transmitir segurança e conforto aos colaboradores e também da maior aceitação do teletrabalho. Assim, os open spaces com filas de secretárias e os gabinetes fechados vão provavelmente ser as primeiras vítimas da Pandemia. Voltaremos a secretárias individuais com espaço demarcado, redução do número de pessoas por sala e maior preocupação com espaço para circular.
As zonas de lazer e refeição serão também repensadas para não acomodar tanta gente em simultâneo.
Curiosamente, os espaços de escritório não tendem a aumentar, frequentemente até o oposto, dado que o teletrabalho está em muitos sítios a ser considerado de forma permanente ou rotativa.
Outras alterações que têm feito o seu surgimento são as soluções contactless para acesso – abertura de portas – torneiras, dispensadores de papel ou máquinas de café.
MVD – Estas alterações impactarão a forma de trabalhar das equipas. Que objectivos/ exigências devem os novos espaços atender?
RC – De uma forma geral, a maior alteração será na comunicação física, que deixará de ser feita em grandes reuniões, nomeadamente as antigas ‘All hands on deck’ onde se reunia toda a equipa. As reuniões em salas fechadas, como forma de trabalho em equipa, estão condenadas a desaparecer, sendo substituídas por reuniões no espaço virtual.
As salas de reuniões vão passar a acolher menos pessoas e serão reservadas para conversas mais privadas ou com clientes, com não mais que 3 ou 4 pessoas. Isto trará uma reconversão da sua forma e tamanho.
As equipas terão de se habituar a colaborar de forma remota, até porque, em muitas organizações, trabalho remoto e trabalho no escritório vão continuar a coexistir.
MVD – Sabemos que as zonas de lazer têm um papel importante nas empresas. As pausas com qualidade têm impacto na produtividade. O que se pode esperar destes espaços atualmente?
RC – O papel das zonas de lazer vai continuar a ser muito importante, mas elas têm que ser revistas. A primeira vítima serão as cantinas ou espaços de refeição, que até aqui acolhiam muitas pessoas concentradas num mesmo espaço.
A questão do distanciamento levará a diferentes soluções alternativas para estes espaços. Algumas empresas manterão espaços grandes com distanciamento entre mesas ou pontos de descanso. Outras multiplicarão estes espaços, mas reduzindo o seu tamanho e capacidade.
Os ‘pods’ individuais ou ‘ninhos de descanso’ vão multiplicar-se como break-out spaces individuais. E esta será talvez a maior mudança de paradigma nestes espaços. Passam a ser sobretudo espaços de lazer (ou descanso, ou concentração) individuais.
MVD – Qual a relevância do Design de Interiores no apoio às empresas na adaptação a estas novas realidades?
RC – Estou convencido que, mais do que nunca, as empresas de Design de Interiores têm um papel fundamental em dar forma às mudanças comportamentais necessárias. Neste momento o seu papel vai muito além do de trazer bom gosto aos escritórios, mas efetivamente trazer funcionalidade e segurança.
Cabe aos (bons) designers de interiores capturar, nos espaços que desenham, as preocupações e necessidades das pessoas que os vão utilizar. Devem saber proporcionar soluções que levam de forma natural a comportamentos mais seguros e promovam colaboração sem ser com contacto físico.
Isto passa não só pelo desenho dos pontos individuais de trabalho, mas também por pensar em layouts que facilitem a movimentação, aproveitamento de janelas e limitem zonas de possível aglomeração.
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